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A Lei de Condomínios e as Reformas em Unidades Autônomas

A Lei de Condomínios e as Reformas em Unidades Autônomas

Viver em condomínio é optar por uma vida com mais segurança, comodidade e, muitas vezes, áreas de lazer completas. No entanto, essa escolha também implica em compartilhar espaços e seguir regras específicas, criadas para garantir a convivência harmoniosa e a segurança de todos. Uma das áreas que mais gera dúvidas e conflitos é a das reformas em unidades autônomas.

Quem nunca pensou em renovar o apartamento, seja para deixá-lo mais moderno, funcional ou simplesmente com a sua cara? Pois bem, antes de colocar a mão na massa e derrubar paredes, é fundamental entender a Lei de Condomínios e as normas que regem essas modificações. Desrespeitar essas regras pode acarretar multas pesadas, embargos da obra e até mesmo ações judiciais.

Este artigo foi elaborado para esclarecer os principais pontos sobre as reformas em condomínios, oferecendo um guia prático para proprietários e síndicos. Nosso objetivo é que você compreenda seus direitos e deveres, garantindo que sua reforma seja um sucesso, sem transtornos para você ou para o condomínio.

A Base Legal: NBR 16.280 e Código Civil

Para começar, é crucial entender quais são os pilares legais que regem as reformas em condomínios. Temos dois principais:

  1. Código Civil (Lei nº 10.406/2002): Este é o nosso principal arcabouço legal. Nele, os artigos 1.331 a 1.358 tratam especificamente do condomínio edilício, abordando desde a instituição do condomínio até as responsabilidades do síndico e dos condôminos. É aqui que encontramos a base para a exigência de que reformas que afetem a segurança da edificação ou alterem a fachada dependam de aprovação.
  2. NBR 16.280 da ABNT: A Norma Brasileira 16.280, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, é um marco na regulamentação das reformas. Publicada em 2014, ela estabelece os requisitos para sistemas de gestão de reformas em edificações. Em termos práticos, significa que qualquer alteração que possa comprometer a segurança da estrutura, das instalações ou do entorno do edifício deve ser planejada e executada por profissionais habilitados, seguindo um plano de reforma.

A importância da NBR 16.280 não pode ser subestimada. Ela transfere para o proprietário/condômino a responsabilidade pela segurança da reforma e para o síndico a responsabilidade pela autorização e fiscalização dos procedimentos. Ignorar essa norma é um risco enorme, tanto para o condômino quanto para o condomínio.

O Que é Considerado Reforma e Onde Está o Limite?

Frequentemente, a primeira dúvida que surge é: minha intervenção é considerada uma reforma que exige autorização?

A NBR 16.280 abrange uma vasta gama de serviços que alteram ou afetam a segurança da edificação. Isso inclui, mas não se limita a:

Em contrapartida, pequenas manutenções ou reparos que não afetam a estrutura ou as instalações comuns geralmente não exigem a apresentação de um plano de reforma detalhado ao síndico. Exemplos: pintura interna sem alteração de cor externa, troca de lâmpadas, pequenos reparos em torneiras ou chuveiros, instalação de quadros ou prateleiras que não perfurem elementos estruturais.

No entanto, a linha pode ser tênue. Em caso de dúvida, a melhor prática é sempre consultar o síndico.

O Papel do Síndico e a Documentação Necessária

O síndico tem um papel central nesse processo. Ele é o guardião da edificação e da segurança de todos. Diante de uma solicitação de reforma, a ele cabe:

  1. Exigir a documentação: O síndico deve solicitar o Plano de Reforma ou Plano de Obras, que deve conter:

    • Descrição detalhada do que será feito.
    • Cronograma da obra.
    • Identificação dos responsáveis técnicos: Arquitetos ou engenheiros (com seus respectivos registros no CAU ou CREA) que elaborarão e executarão a reforma. Eles devem emitir a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) ou RRT (Registro de Responsabilidade Técnica), garantindo que o projeto e a execução estão sob supervisão profissional.
    • Declaração de que a reforma não afetará a segurança da edificação.
    • Comunicação dos horários de trabalho e do descarte de entulho.
  2. Analisar a documentação: O síndico, ou um profissional por ele contratado (se o condomínio tiver essa política), deve analisar se o plano de reforma está completo e se as intervenções propostas não comprometem a estrutura ou as áreas comuns.

  3. Autorizar ou Negar: Com base na análise, o síndico autoriza o início da reforma, estabelecendo as condições (horários, descarte, acesso). Em caso de inadequação ou risco, a autorização deve ser negada até que as devidas correções sejam feitas.

  4. Fiscalizar a obra: O síndico tem o direito de fiscalizar se a reforma está sendo executada conforme o plano aprovado e se as normas do condomínio estão sendo respeitadas (barulho, limpeza, uso de elevadores).

O Condômino: Seus Deveres e Direitos

Como condômino, você tem o direito de reformar sua unidade, desde que respeite as regras. Seus deveres incluem:

E se a reforma for negada? Se o síndico negar sua reforma sem justificativa plausível ou sem apontar as adequações necessárias, você tem o direito de buscar esclarecimentos. Em último caso, se houver arbitrariedade, a questão pode ser levada a uma assembleia de condôminos para deliberação, ou até mesmo ao Poder Judiciário.

Fachada e Partes Comuns: Atenção Redobrada

Qualquer alteração na fachada do edifício ou nas partes comuns (hall, corredores, garagens, salões de festa, etc.) exige um tratamento diferenciado. Segundo o Código Civil, a alteração da fachada ou de elementos estruturais que comprometam a segurança da edificação depende de aprovação da unanimidade dos condôminos (art. 1.336, III e 1.341, II e III do Código Civil). No entanto, a jurisprudência e a doutrina têm mitigado essa exigência, aceitando a maioria qualificada (ex: 2/3) dependendo da Convenção.

Muitos condomínios têm regras claras em sua Convenção e Regimento Interno sobre o que pode ou não ser feito na fachada (fechamento de varandas, instalação de ar-condicionado fora do padrão, etc.). Desrespeitar essas regras pode gerar não apenas multas, mas também a obrigação de desfazer a alteração.

Consequências da Reforma Irregular

As consequências de uma reforma irregular podem ser severas:

Conclusão: A Importância do Profissionalismo e do Diálogo

A realização de reformas em unidades autônomas é um direito do condômino, mas deve ser exercido com responsabilidade e conhecimento das normas. A Lei de Condomínios, a NBR 16.280 e a convenção condominial são seus guias.

Contar com profissionais habilitados (arquitetos e engenheiros) desde o planejamento da sua reforma é o passo mais inteligente para garantir a segurança, a conformidade legal e a qualidade do serviço. Além disso, a comunicação transparente com o síndico é fundamental para evitar atritos e garantir que sua reforma transcorra sem problemas.

Se você é síndico e precisa de auxílio para implementar procedimentos claros para reformas, ou se você é condômino e está com dúvidas sobre como proceder com sua obra ou foi notificado por uma reforma, procure um advogado especialista em direito condominial e imobiliário. Ele poderá oferecer a orientação jurídica necessária para que você realize sua reforma com tranquilidade e dentro da lei, ou para que o condomínio se resguarde de riscos e conflitos.

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