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O que fazer quando o imóvel alugado não corresponde ao anunciado?

Inquilino com expressão de frustração mostrando uma parede com infiltração em um apartamento, contrastando com a expectativa de um imóvel em perfeitas condições

A busca por um novo lar é um processo que envolve expectativas e sonhos. As fotos em um anúncio online, a descrição detalhada de um imóvel espaçoso e bem conservado, e as promessas de um ambiente funcional criam uma imagem que, muitas vezes, é decisiva para a assinatura do contrato de aluguel. A decepção, no entanto, pode ser imensa quando, ao receber as chaves, o inquilino se depara com uma realidade completamente diferente.

Eletrodomésticos prometidos que não existem, infiltrações habilmente escondidas nas fotos, metragem visivelmente menor ou um estado de conservação precário são apenas alguns dos problemas que podem surgir. Diante dessa quebra de expectativa, muitos inquilinos se sentem lesados e sem saber como agir. A pergunta que fica é: quais são os seus direitos quando o imóvel alugado não corresponde ao que foi anunciado?

A boa notícia é que a legislação brasileira protege o locatário contra esse tipo de situação. O contrato de aluguel não é apenas um acordo sobre a posse de um bem, mas um pacto baseado na boa-fé e na transparência. Portanto, o que foi anunciado e prometido vincula o locador. Neste artigo, vamos detalhar os passos que você deve seguir e os direitos que pode exigir para resolver esse impasse de forma segura e eficaz.

A Força Vinculante do Anúncio: O Que Diz a Lei?

O ponto de partida para entender seus direitos está no fato de que o anúncio (seja ele em um portal imobiliário, em redes sociais ou em material impresso) faz parte da oferta. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, aplicado de forma subsidiária em algumas relações locatícias, e principalmente pelo princípio da boa-fé objetiva do Código Civil, toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Em paralelo, a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91) é clara ao estabelecer os deveres do locador. O principal deles é “entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina”. Se o anúncio prometia um apartamento funcional e seguro, e a realidade é um local com problemas elétricos, vazamentos ou itens essenciais faltando, o locador está descumprindo sua principal obrigação contratual e legal.

O Primeiro Passo: Documentar Absolutamente Tudo

Ao perceber a discrepância entre o anúncio e a realidade, a sua primeira e mais importante atitude deve ser a documentação minuciosa de todos os problemas. Agir de forma organizada desde o início é o que fortalecerá sua posição em uma negociação ou em uma eventual disputa judicial. Siga este checklist:

  1. Salve o Anúncio Original: Tire prints (capturas de tela) de todo o anúncio, incluindo as fotos, a descrição textual, a lista de itens e qualquer promessa feita. Salve também o link da publicação.
  2. Fotografe e Filme o Imóvel Real: Documente detalhadamente cada problema. Fotografe as infiltrações, filme as janelas que não fecham, mostre os espaços que são menores do que o prometido e liste os itens que estão faltando.
  3. Elabore uma Lista: Escreva uma lista ponto a ponto, comparando o que foi anunciado com o que foi efetivamente entregue.
  4. Verifique o Laudo de Vistoria: Compare suas anotações com o laudo de vistoria de entrada. Se os problemas não constarem no laudo, é fundamental que você solicite a inclusão ou conteste o documento formalmente, dentro do prazo estipulado em contrato.

Com este dossiê em mãos, você deixa de ter apenas “a sua palavra” e passa a ter provas concretas da falha do locador.

Buscando a Solução: Da Negociação à Rescisão Contratual

Com as provas organizadas, o próximo passo é buscar a resolução do problema. O caminho ideal é sempre começar pela via amigável, escalando as medidas conforme a necessidade.

  1. Comunicação Formal com o Locador ou Imobiliária: Envie uma notificação por escrito (e-mail com confirmação de leitura ou carta com aviso de recebimento) ao responsável pela locação. Apresente a lista de problemas, anexe as fotos e os prints do anúncio, e solicite uma solução. Você pode pleitear:
    • O reparo imediato de todos os vícios e problemas para que o imóvel atinja o estado que foi anunciado.
    • Um abatimento proporcional no valor do aluguel enquanto os problemas persistirem ou caso eles não possam ser integralmente resolvidos.
  2. Rescisão do Contrato por Justa Causa: Se o locador se recusar a resolver os problemas, ou se os defeitos forem tão graves que tornem o imóvel impróprio para moradia (sem condições de habitabilidade), o inquilino tem o direito de solicitar a rescisão do contrato por culpa do locador.

Neste caso, o inquilino pode devolver o imóvel sem a necessidade de pagar a multa contratual por rescisão antecipada. Além disso, dependendo do caso, é possível exigir o reembolso de despesas já pagas, como o primeiro aluguel e os custos da mudança.

  1. Ação Judicial e Pedido de Indenização: Se todas as tentativas amigáveis falharem, o caminho é a via judicial. Através de uma ação, o inquilino pode pedir ao juiz que declare a rescisão contratual por culpa do locador, isentando-o da multa. Adicionalmente, é possível pleitear uma indenização por danos materiais e morais. Os danos materiais cobririam gastos (como a necessidade de alugar outro imóvel às pressas), enquanto os danos morais seriam pela frustração, pelo transtorno e pelo abalo de ter sido enganado em algo tão essencial quanto a própria moradia.

Não Aceite Menos do que Foi Prometido

Alugar um imóvel que não corresponde ao anúncio não é um mero aborrecimento, mas sim uma violação de seus direitos como inquilino e consumidor. A lei oferece amparo para que você não seja obrigado a permanecer em um local inadequado nem a arcar com um prejuízo gerado pela falta de transparência do locador ou da imobiliária.

O segredo para uma resolução favorável está em agir de forma estratégica: documentar tudo, comunicar-se formalmente e conhecer as opções legais à sua disposição. A orientação de um advogado especialista em direito imobiliário é crucial nesse processo, pois ele saberá como conduzir a negociação, formalizar as notificações e, se necessário, defender seus interesses na Justiça para garantir não apenas a rescisão do contrato sem ônus, mas também a devida reparação pelos transtornos sofridos.

Se você está passando por essa situação frustrante e precisa de auxílio para fazer valer seus direitos, entre em contato com nosso escritório. Oferecemos uma análise completa do seu caso para fornecer a orientação personalizada e a representação jurídica necessária para resolver seu problema da forma mais rápida e segura possível.

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